Exposições temporárias
O Espace Frans Krajcberg, Centre d'Art Contemporain, Art et Nature, recebeu os artistas Livia Melzi e Emilio Azevedo, bem como a curadora convidada Laila Melchior, para uma residência de pesquisa e criação de um mês. O resultado : a exposição L'ORDRE DES CHOSES, inaugurada em 21 de setembro de 2023.
A residência : Livia Melzi e Emilio Azevedo dialogaram com as obras de Frans Krajcberg, cruzando sua trajetória artística e ativista entre o Brasil e a França. Essa experiência os fez mergulhar na metodologia inclassificável de Frans Krajcberg, baseada na observação e no uso de elementos naturais dos quais ele se inspirava : fogo, desaparecimento, matéria, natureza original...
Inspirados nas formas e na linguagem que Frans Krajcberg desenvolveu em contato com a natureza brasileira, eles olham com atenção para o mundo atual. Assim como Frans Krajcberg, que utilizou "matéria-prima" colhida em florestas queimadas, nos manguezais da Bahia e nas minas de Minas Gerais, eles recuperaram e desviaram documentos de arquivo e suportes de vidro para criar novas imagens e instalações efêmeras. Trata-se de uma experiência estética e sensível que enriquece a abordagem técnica e documental e oferece um novo olhar sobre os elementos naturais.
A exposição: os dois fotógrafos vivem entre o Brasil e a França e usam a arte deles para compartilhar suas questões. Acompanhados pela curadora Laila Melchior, eles revisitam a visão tradicional da natureza, seja ela científica, artística, o a maneira como é exibida nos museus europeus. Para isso, eles criaram uma linguagem original que nos convida, como fez Frans Krajcberg, a examinar os fundamentos da atual crise ecológica.
Na Europa, as noções de "natureza" e "naturalismo" têm sido abordadas há muito tempo por meio de narrativas e representações. Aqui, os dois artistas desfocam a relação entre a olhar científica e a imagem. Com base em suas próprias práticas artísticas, eles testam a acessibilidade de documentos de arquivo para trazê-los de volta à vida e envolver melhor o visitante. Para isso, eles confrontam os elementos na luz das janelas do Espace Krajcberg.
- O Espace Frans Krajcberg, construído com materiais recuperados da Exposição Universal de 1900, tem grandes janelas que fornecem luz direta. Elas ecoam com a estrutura translúcida das estufas, usadas para facilitar a adaptação de espécies de plantas tropicais transplantadas longe de sua origem geográfica. O vidro é uma substância transparente, que imaginamos ser neutra. No entanto, ele tem tanto a ver com distância quanto com facilitar o contato com a matéria viva. Ele faz parte do "ver, falar e fazer" da botânica e dos museus. Ela deixa a luz entrar (uma metáfora da racionalidade ocidental e do olho científico), mas enquadra o olhar do observador, impõe pontos cegos e, quando seu reflexo é muito forte, envia sua imagem de volta ao observador.
-As fotografias [re]enquadradas são inspiradas no trabalho de Frans Krajcberg, que gostava de capturar momentos fugazes da vida, o mais próximo possível da natureza. Slides de grande formato, projeções e documentos combinados com outras técnicas fotográficas exploram o mito da "natureza selvagem". Tiradas nas florestas brasileiras, em museus e coleções européias, nos arquivos dos dois artistas ou nos de Frans Krajcberg, elas são encenadas em estruturas de vidro, uma referência aos dispositivos científicos tradicionalmente usados. Essas instalações abordam os diferentes contextos em que exploramos os elementos naturais.
Os sistemas de ordenação, linearidade, hierarquização e avaliação típicos da tendência ocidental de classificar, acumular e consumir seres vivos não têm mais lugar diante da crise climática que estamos vivendo. O conceito de "museu universal" também é examinado, com seus limites éticos e compartimentados, e as implicações do que a ideia de restituição pode significar. Seguindo os passos de Frans Krajcberg, "L'ORDRE DES CHOSES" traz perguntas sobre o mundo das plantas, que surge aqui como uma presença, um fantasma, que veio ao encontro dos dois artistas.