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Revoltas

EU SOU UM HOMEM QUEIMADO : O fogo é a morte, o abismo. O fogo sempre esteve comigo. Minha mensagem é trágica. Eu mostro o crime. Trago os documentos, recolho e acrescento, quero dar à minha revolta o rosto mais dramático e violento. Quero que meus trabalhos sejam um reflexo de queimadura. ”

 

No final da década de 1980, após viagens pelo Mato Grosso e pela Amazônia, Frans Krajcberg passou a trabalhar com “madeira queimada”, recuperada de locais de desmatamento. Suas “revoltas” são montagens feitas a partir de elementos naturais: troncos, cipós, raízes ... coletadas em matas devastadas por incêndios, depois transformadas com um maçarico. O fogo endurece a madeira e dá-lhe uma certa resistência. O trabalho é então realçado com preto ou vermelho, cores tiradas de carvão vegetal, pedras ou pigmentos naturais, que protegem, curam e camuflam como as tintas de guerra - mas também cataplasmas de proteção rituais.

 

Erguidas sobre pedestais naturais, atravessados pela luz, seas “madeiras queimadas”, estelas ou totens, soam como trágicas sirenes de alarme. Com elas Frans Krajcberg afirma que a morte não é um fim. Ele a desafia com suas esculturas. Os elementos purificados, transformados e ampliados renascem.

 

Sua “casca queimada” ecoa sua “madeira queimada”. Entre a pintura e os fragmentos epidérmicos, sua economia trágica se opõe à teatralidade dos “conjuntos”.

Frans Krajcberg instala na frente de sua própria casa uma enorme escultura de onze metros de altura, batizada de Memória da Destruição: esvaziados de sua substância, dois troncos de árvore mortos, secos e queimados, são incrustados um no outro e elevados ao céu. A sua silhueta dramática fala do luto das plantas, mas também do corpo humano, da reminiscência e da recusa de esquecer o passado. Como os ancestrais africanos, enterrados no centro das habitações para proteger a vida de sua tribo, esta escultura atua como um guardião espiritual do espaço privado do artista.

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