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Sombras

Em Paris, na década de 1960, Frans Krajcberg começa a trabalhar nas suas Sombras recortadas. A sombra é uma forma de libertar a obra da moldura dando vida a elementos mortos, ampliados pela luz.

Com uma surpreendente modernidade plástica, a silhueta recortada é ao mesmo tempo a negação e a afirmação da pintura. “A ideia me surgiu em Minas, mas foi em Paris que fiz minhas primeiras sombras projetadas. Eu queria estourar o quadrado, sair da moldura. Eu tinha mais de um motivo para fazer isso. A natureza ignora o quadrado, o movimento gira. […] A vida não é quadrada e não tem formas fixas. […] A abstração do quadrado acompanhou as revoluções do início do século, como o expressionismo acompanhou a miséria. Sempre tive uma sensibilidade expressionista e nunca me reconheci no concretismo. Eu não queria arte pela arte. Eu queria encontrar novas formas. A natureza me ofereceu milhares.”

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Frans Krajcberg, lianes noires (série Ombre portée). Lianes, contreplaqué et pigments naturels (manganèse), 1982, 245 x 113 x 40 cm. 

A técnica consiste em capturar a sombra projetada por um elemento natural (raiz, galho, semente ... cuja forma o fascinou), desenhada a linha, depois recortada de um suporte de madeira. O elemento, fixado no suporte, confere-lhe relevo e volume. As duas partes montadas são freqüentemente pintadas de uma cor viva que as une intimamente. Juntas, elas evocam o tempo, o espaço, a fragilidade da vida ...

As sombras removem qualquer ideia de oposição entre Arte e Natureza: “Ao recortar  e projetar  as sombras, ele abre uma nova perspectiva para a nossa contemplação da natureza. Uma contemplação que vem com um acréscimo de racionalidade e inteligência, e que permite associar os ritmos internos da natureza aos ritmos criados pelo artista.” (Federico MORAIS, 2004). 

“Devo mais aos recortes de Arp do que aos recortes de Matisse. […]  Minha pesquisa consistia em experimentar a iluminação para escolher uma sombra. Existe uma infinidade delas. Nenhum homem faz a mesma sombra e a sombra do mesmo homem está sempre se movendo. Eu queria unificar o objeto à sua sombra. Procurava na natureza uma possibilidade de renascer para a vida da arte, unindo-a à diferentes formas, mas captadas dela. A projeção da sombra acrescentava-lhe uma forma. Era a minha participação.”

Nas primeiras peças, o corte à geometria dura, “construtiva” ou “concreta” opõe-se à fluidez das linhas naturais da forma que enfatiza. Com o passar dos anos, vai se aproximando disso, como o contorno de uma iluminação lateral.

 

Frans Krajcberg trabalha nas sombras por cerca de 20 anos, mas voltara a elas continuamente até o fim de sua vida. Ele observa, estuda e testa todas as possibilidades oferecidas por essa técnica. Utiliza flores de madeira da região de Itabira (MG), manguezais de Nova Viçosa (BA) e cipós da Amazônia. Às vezes ele adiciona fibras de piaçava.

Essa produção, segundo Frederico Morais, pode ser agrupada em três grupos:

No primeiro, estão aquelas obras nas quais prevalece uma nítida oposição entre o barroquismo dos conjuntos florais  e a rigidez dos suportes ortogonais, que se fragmentam em duas ou mais partes. Um segundo grupo reúne aquelas peças nas quais as sombras atuam diretamente no suporte, desgastando-o à medida que vão perfurando. Nos dois casos a composição é frontal e as sombras trabalham em profundidade. Um terceiro bloco agrupa obras nas quais as sombras projetadas se distanciam, quase se desprendendo do suporte, como se fossem um desenho de perfil, um grafismo que se visualiza no espaço, tridimensionalmente.

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